A Igreja Nunca Saiu da Política – Apenas Mudou de Lado
- edivaldo rossetto
- 30 de mar.
- 2 min de leitura
Ao combater a Teologia da Libertação, a Igreja Católica disse que queria se afastar da política, mas apenas trocou a defesa dos pobres pelo apoio a partidos de direita. Agora, enfrenta um erro estratégico que pode custar sua relevância.
Por décadas, a Igreja Católica sustentou um discurso de afastamento da política, especialmente ao combater a Teologia da Libertação. A justificativa era clara: a Igreja não deveria se envolver em ideologias, mas apenas pregar o Evangelho. No entanto, a realidade mostrou algo bem diferente. O que se viu não foi um distanciamento da política, mas uma mudança de posicionamento, uma troca de lado que colocou a instituição como militante da direita e, em muitos casos, apoiadora de regimes autoritários.
Nos anos 1960 e 1970, a Teologia da Libertação surgiu na América Latina como um movimento que interpretava os ensinamentos de Cristo à luz da realidade social dos mais pobres. Inspirada no Concílio Vaticano II, essa teologia reforçava a “opção preferencial pelos pobres”, um conceito que nada mais era do que a essência do cristianismo. Cristo sempre esteve ao lado dos marginalizados, dos enfermos, dos oprimidos. Sua mensagem nunca foi a de manutenção do status quo, mas sim de libertação e transformação social.
Entretanto, essa abordagem logo se tornou alvo da cúpula do Vaticano. Sob João Paulo II, o combate à Teologia da Libertação foi feroz. Padres e teólogos que defendiam essa visão foram perseguidos, silenciados ou afastados. O argumento? Que a Igreja não poderia ser instrumento de uma ideologia política. Mas será que a Igreja realmente se manteve neutra?
A resposta é clara quando observamos que, ao mesmo tempo em que condenava padres progressistas, a Igreja Católica se aproximava cada vez mais de governos autoritários e de partidos conservadores. Se antes a instituição permitia que seu clero atuasse ao lado dos movimentos populares, agora passou a dar suporte a líderes políticos de direita, muitos dos quais responsáveis por políticas que aprofundam desigualdades sociais.
Essa mudança não foi apenas um acaso da história. Hoje, a Igreja mantém forte influência política por meio de colégios de líderes que lançam candidatos alinhados a partidos de direita. A mesma instituição que dizia querer se afastar da política agora se movimenta nos bastidores para eleger representantes que defendem pautas conservadoras. O discurso de que a Igreja deveria ser neutra não passou de um artifício para deslocá-la da defesa dos pobres e colocá-la ao lado dos poderosos.
O problema dessa estratégia é que ela enfraquece a própria Igreja. Ao abandonar a luta social e abraçar uma pauta política excludente, a Igreja Católica abriu espaço para o crescimento de igrejas evangélicas, que souberam ocupar o vácuo deixado. Enquanto o catolicismo se distanciava dos mais necessitados, denominações evangélicas passaram a prestar assistência, fortalecer laços comunitários e oferecer apoio espiritual e material a milhões de pessoas.
O mais irônico é que a Igreja Católica escolheu um caminho onde a igreja evangélica já reina absoluta. Ao trocar sua identidade histórica por um conservadorismo político, ela se tornou apenas mais uma voz dentro de um cenário onde os evangélicos são maioria e ditam as regras. A pergunta que fica é: até quando a Igreja Católica continuará abrindo mão de sua missão original em nome de uma aliança política que não tem compromisso real com os valores cristãos?

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